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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Eles estão assistindo

Eu tenho o privilégio de almoçar em casa todos os dias. Aliás, somente eu, pois minha esposa trabalha em um Banco e faz suas refeições lá mesmo.

Sempre que chego em casa é sempre a mesma coisa: meus filhos, Lívia (4anos) e Kalel(3anos) vêm me abraçar e beijar. Geralmente estão na frente do quintal de casa e a chegada do papai é sempre muito bem vinda.

Um dia desses, um problema fora da minha rotina anuviou meus pensamentos. Fiquei de fato preocupado com o tal problema e quando cheguei em casa para meu almoço as crianças vieram me receber. Beijos e abraços de sempre, até que a Lívia me disse com sua voz de criança:

- Você está sério papai?

Sim, eu estava sério. O problema tinha me atingido de tal forma que meu semblante estava pesado. Eles flagraram até mesmo meu sorriso disfarçado. Ficaram os dois na minha frente, aguardando resposta.
Dei o melhor sorriso que eu tinha e respondi:

- Eu estava. Agora não estou mais.

Almoçamos juntos e durante aquelas duas horas deixei o problema de lado. Meus filhos não precisaram se preocupar com qualquer semblante de preocupação minha – por mais que ela existisse naquele momento.

No sábado de manhã, fomos à igreja. No momento da oração, segurei o Kalel pelas duas mãos e o coloquei de joelhos à minha frente. Fiz isto para ele não ficar fazendo bagunça no momento da oração.

Enquanto o irmão falava com Deus lá no púlpito, eu abri os olhos para espiar meu filho. ele estava ali, de joelhos na minha frente. Olhos bem abertos me espiavam por completo e então ele perguntou com uma voz baixinha:

- Você está orando Papai? Tá falando com papai-do-céu?

Depois disso eu fiquei pensando e cheguei à seguinte conclusão: Eles estão assistindo.

Sim, isto mesmo. Nossos filhos estão nos assistindo. Às vezes chego em casa e o som dos meus passos fazem os dois saírem em disparada para me receberem à porta. É como se fosse o som da vinheta do programa preferido deles.

Nesta primeira fase da vida deles, é apenas isto que querem: a presença, a atenção e a constante imagem dos pais.
Enquanto estou em casa, observo sempre aqueles olhinhos acompanhando tanto eu como minha esposa (Elisa) pela casa. As crianças usam nossas expressões ao falar, imitam nossos gestos, calçam nossos sapatos e, se deixar, vestem até mesmo nossas roupas.

Elas fazem isto pois estão sempre nos assistindo. Estão avaliando cada traço de alegria ou tristeza na nossa face. São mais inteligentes que pensamos.

Diante desta conclusão, eu me questionei: O que eu estou apresentando para os meus filhos? Estou sendo um bom “programa educativo” para eles? Estou dando a merecida atenção para minhas duas pequenas criaturas?

Não tenha dúvida, nós, os pais, somos o programa preferido dos nossos filhos e eles vão imitar tudo o que vêm em nós.
Se jogamos futebol, eles também querem jogar; se a mamãe usa salto alto, as filhas querem desfilar pela casa com os sapatos dela; nossos perfumes são eternos alvos para as crianças que querem, até mesmo, ficar com o cheiro do papai e da mamãe.

Todo nosso comportamento é avaliado e copiado por eles e, não raras vezes, colocamos nossos filhos dentro da sala da nossa casa para assistirem os mesmos – impróprios – programas de televisão que nós assistimos. Neste momento a criança deve pensar: se é bom para ele, é bom para mim.

Se nós temos discernimento para entender o que é certo e errado na televisão, nossas crianças não têm. Mesmo assim permitimos que elas fiquem ali sentadas ao nosso lado, assistindo ao bacanal que entra em nossos lares.

Não é isto que eles querem. Eles não querem ficar assistindo televisão. Nossos filhos querem a nós, papais e mamães. Sei quão bom é chegar em casa e ter tranqüilidade, sem filho pulando em cima da gente. É ótimo enfiá-los na frente da tela com qualquer porcaria animada para termos breves segundos de sossego.

Privamos nossos filhos de seu programa preferido: nós. Abrimos mão de educá-los diretamente e permitimos que a Rede Globo, Disney ou qualquer porcaria televisiva os doutrine no nosso lugar.

Eles querem nos assistir e às vezes queremos apenas “sair fora do ar”.
Somos responsáveis por estas grandes bênçãos que Deus nos confiou. A responsabilidade é nossa. É minha responsabilidade educar meus filhos e ser um bom exemplo para eles.

Ontem (10/08/07) teve uma apresentação na Escola Adventista, onde a Lívia estuda. Lá na frente, amontoada entre inúmeros aluninhos, eu achei seu rostinho cantante e ela achou o meu no meio de um monte de pais babões sentados nos bancos.

A Lívia cantava e, com convicção, apontava o dedo para mim no refrão “quando eu crescer, papai, eu quero ser como você.”

Espero estar sendo um bom exemplo para meus dois pequenos, pois eles querem ser como eu quando crescerem.

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